
Cenário Imaginado… Parte III
(Um sonho ou terá sido apenas a minha imaginação?)
O veleiro estava iluminado e baloiçava suavemente ao sabor do mar calmo. Ele ergueu-se a seu lado e puxou-a para si. Beijaram-se e ela sorriu. Mas o fundo dos seus olhos, não sorria, chorava.
Não conseguia pensar. Não conseguira pensar quando ele entrara no mar. Nem quando se abraçaram, beijaram e depois se amaram na areia da praia. E continuava sem conseguir pensar agora. Era como se encontrasse numa espécie de transe…hipnotizada.
Ele sorriu-lhe de volta e finalmente falou:
- És tudo! Vim buscar-te para sempre… - Apontou o veleiro. – Vamos dar uma volta?!
Foi a voz que a despertou! Aquela voz! Não a conseguira apagar da memória…Fora uma das primeiras coisas que a enfeitiçara nele. A voz!
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Noite de festa. Gente animada e bonita. Risos e música. Pegara numa taça de espumante e dirigira-se ao terraço. No fundo sentia-se contente por os amigos terem insistido com ela para que fosse com eles. A noite estava linda e estrelada. E, espantosamente quente, para uma noite de Dezembro.
A princípio relutara, argumentara que não se sentia com ânimo…Apesar de já terem passado seis meses desde que tudo terminara abruptamente quando iniciavam já os preparativos para o casamento, ela ainda não se habituara à nova realidade. Uma realidade em que Nuno não existia. Uma casa vazia todas as noites à sua espera. Ele saíra da sua vida de um dia para o outro…sem aviso, sem um sinal anterior que lhe pudesse dizer que alguma coisa estava errada.
Conheciam-se desde sempre. Não se lembrava de não o conhecer. Os pais de ambos eram amigos, tinham deixado as fraldas quase em simultãneo. A escola primária lado a lado na carteira. Depois o liceu…
O primeiro beijo acontecera no 6º ano. Recordava-se nitidamente do momento atrapalhado em que ele finalmente lhe fizera a pergunta timidamente:
- Mariana, queres namorar comigo?! – falara tão baixo que mal o conseguira ouvir…
Ela levantara-lhe o rosto e sorrira, sentira-se corada quando os olhos se encontraram com os dele, mas respondera com o seu habitual ar traquina.
- Estava a ver que não perguntavas! – e colou os lábios nos dele.
Fora um beijo tímido. Um roçar de lábios casto e puro. Os beijos de língua, os toques por debaixo da carteira, as carícias ousadas…a vontade de se entregarem um ao outro total e completamente, acontecera com o tempo…tão natural e simplesmente que nem se conseguia lembrar nitidamente dos detalhes.
- Boa noite, posso fazer-lhe companhia?
Estremeceu, acordando do sono das suas recordações. Ainda não se voltara para lhe ver o rosto mas a voz… A voz enfeitiçara-a como num passe de mágica.
Voltou-se lentamente para ela…para a direcção da voz.
(Será alguém conhecido?! Será Nuno que aparece de surpresa na festa?! Quem será a pessoa do veleiro? Eu ainda não sei…Como se costumava dizer nas novelas, quando eu era mais miúda…não percam as cenas do próximo capítulo no próximo sábado na Rádio Sempre.)
Tânia Jorge
Para ver como começou - Cenário Imaginado - Parte 1
E a continuação - Cenário Imaginado - Parte 2